Escrever é algo parecido com sentir. Ao mesmo tempo que dá medo,
também nos liberta. Acontece que, de tempos pra cá, tenho escrito pouco. Não
tenho tido inspiração, as palavras se tornaram mais distantes, mal consigo
rascunhar como fazia há alguns meses. De certa forma não é tão desesperador,
penso que o homem se humaniza na falha, mas me preocupa.
Sempre imagino como seria o primeiro capítulo de
meu livro, caso quisesse, de fato, escrevê-lo. As primeiras linhas... É claro
que gostaria de saber como seria o livro todo, página a página, mas o capítulo
inicial é primordial. Também tenho curiosidade pela vida, mas talvez menos. Na
verdade me intriga o fato de ainda estar curioso – e não ansioso – para viver.
Ainda não escrevi nada.
Às vezes me sinto ignorante. Não critico minhas escolhas, tampouco me arrependo delas, no entanto reflito constantemente sobre o que fiz a partir do que escolhi. Sim, optei por um caminho e não pelo outro, que ótimo, como tenho coragem e perseverança, mas e aí? Para se ter alguma coisa na vida é preciso abrir mão de outra. Não basta decidir. O distanciamento entre o que penso e o que sinto, meus bens mais preciosos, sempre é encerrado na medida do tempo que leva para medi-lo. Levanto acampamento e sigo viagem. Não existe silêncio.
Eu me burlo. Se penso, posso agir ou não. Valho-me dessa ponte levadiça. Mas, se sinto, sinto. Não há escolha, porém decisões.