domingo, 1 de julho de 2012

Vulto


Escrever é algo parecido com sentir. Ao mesmo tempo que dá medo, também nos liberta. Acontece que, de tempos pra cá, tenho escrito pouco. Não tenho tido inspiração, as palavras se tornaram mais distantes, mal consigo rascunhar como fazia há alguns meses. De certa forma não é tão desesperador, penso que o homem se humaniza na falha, mas me preocupa.

Sempre imagino como seria o primeiro capítulo de meu livro, caso quisesse, de fato, escrevê-lo. As primeiras linhas... É claro que gostaria de saber como seria o livro todo, página a página, mas o capítulo inicial é primordial. Também tenho curiosidade pela vida, mas talvez menos. Na verdade me intriga o fato de ainda estar curioso – e não ansioso – para viver. Ainda não escrevi nada.


Às vezes me sinto ignorante. Não critico minhas escolhas, tampouco me arrependo delas, no entanto reflito constantemente sobre o que fiz a partir do que escolhi. Sim, optei por um caminho e não pelo outro, que ótimo, como tenho coragem e perseverança, mas e aí? Para se ter alguma coisa na vida é preciso abrir mão de outra. Não basta decidir. O distanciamento entre o que penso e o que sinto, meus bens mais preciosos, sempre é encerrado na medida do tempo que leva para medi-lo. Levanto acampamento e sigo viagem. Não existe silêncio. 


Eu me burlo. Se penso, posso agir ou não. Valho-me dessa ponte levadiça. Mas, se sinto, sinto. Não há escolha, porém decisões. 

Um comentário:

  1. Há aquele que atira
    no escuro, ou se atira
    no branco, ou melhor
    o que nada sabe e nada
    no branco e mergulha
    no escuro, leitura em
    braile no absoluto - vozes
    apenas em seus ouvidos,
    mil braças e nenhuma
    notícia de sereias - atrás
    do que, rasgo, nada
    além de luz, movimento
    sem promessas que não
    seja fuga acesa e risco
    de afogar-se na indistinta
    noite de todas as vésperas.

    (o primeiro leitor - marcelo diniz)

    Silêncio é palavra na lucidez do oco! beijos
    Fermina Daza

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