- Ou a gente vai
ser muito feliz ou a gente vai ser pouco feliz. Mas, infeliz, não!
- Por que você acha isso?
- Porque o erro das pessoas é querer a máxima felicidade, a suprema, absoluta. Ela não existe. Qual a diferença entre ser muito feliz e pouco feliz? A felicidade tem medida? O pouco feliz é mais feliz que o muito feliz. Acho que ser infeliz é querer a perfeição. Isso não é querer sentir, é pensar em sentir. Como se racionalizar fosse uma saída e não uma fuga.
- E você me acha racional?!
- Porra, muito.
- Sério?! Lógico que não! Eu sou a mais passional que tem. Quando me entrego, mergulho de cabeça, não quero nem saber. Me envolvo, entende? Tenho meus rompantes, explodo, me apaixono, brigo, choro. ..
- Só alguém racional se define tão bem...
- Caraca! Você me acha mesmo, né?!
- Acho, mas, porra, eu também sou. Aí, acho que é menos preocupante. Quer dizer, só quem vive abraçado à razão usa a expressão “menos preocupante” para definir uma característica comum. Não digo afinidade, mas o defeito. Porque as pessoas acham que ser racional é ser frio e ser passional é ser burro, né?
- É, acho que é isso mesmo! Aí, vem alguém dizer que tem que ter um equilíbrio e tal, não pesar pra nenhum lado... Impossível! Querer calcular essa medida! Quer alguma coisa mais racional que essa?!
- Então por que estamos aqui?
- Ué, não sei... A gente veio tomar um chope, conversar. Ou você diz no sentido, tipo, sei lá, filosófico?
- Não, digo no físico mesmo.
- Bom, a gente se conheceu, foi tudo muito rápido. Mas tipo, quando a gente fala assim “foi tudo muito rápido” parece que temos uma história, um caso. E pô, você sabe, nunca rolou nada. Mas eu não sei, gosto de estar com você.
- Eu também gosto de você, sabe? Foi de repente. Se vê todo dia, nesse horário. Mesma ponto, mesmo trajeto, mesmo destino...
- Mó viagem isso, né?
- Acho isso foda... Essas coincidências, amigos em comum dos mais estranhos lugares e épocas, aquela história do ônibus, você estudou onde eu vou estudar... Sei lá, isso assusta, né? Não um susto de medo, mas de alerta.
- Alerta que pode não dar certo?
- Não, alerta de que pode dar certo...
- Aí, você tá racionalizando de novo! Viu?! E depois diz que não racionaliza.
- Mas quem fiscaliza também é.
- Tá certo, é verdade. Mas eu não nego. Bom, você tem que ir, né?
- Ih, caramba, vou chegar MUITO atrasada! Viajei... e olha lá, viu?! Acabou de passar o meu ônibus!
Tenho que correr pro ponto!
- Posso ir com você até lá. (eu deveria surpreendê-la)
- Tá bem... Mas ir até onde?!
- Um lugar onde a pressa não tenha razão...