Aconteceu ontem à tarde. Eis que, ao chegar de uma corrida na Lagoa, decidi assistir ao telejornal de uma emissora de televisão que se autoentitula uma família. Pois bem. Do estúdio, o âncora chama uma repórter ao vivo, num link (na linguagem de televisão) dentro da DFAE (Delegacia de Fiscalização de Armas e Explosivos). Na mesa exposta pelos policiais, três fuzis: um AK-47, um FAL e outro, se não me engano, era um M16.
Ainda sem entender o porquê do assunto, claro, antes de entender o porquê de uma entrevista ao vivo sobre, a repórter (?) pergunta ao delegado: qual desses três fuzis tem maior poder de destruição? O delegado respondeu, mas não lembro qual foi a arma agraciada, porque me recuperava ainda atônito sobre os porquês citados acima. Foi quando a seguradora de microfone, a da família, saca duas balas que também estavam expostas na vernissage policial e mostra para a câmera: “olha, gente, essa com marca vermelha na ponta é a bala traçante. Essa outra aqui, como vocês podem ver aí em casa, com a ponta azul, é a bala comum. Delegado, qual dessas é a melhor? Qual é a diferença? A traçante...blablabla”. Enquanto isso, eram veiculadas imagens de tiroteios em pelo menos três comunidades diferentes, Rocinha, Macacos e outra, próxima à Linha Amarela. O âncora esbravejava que tais imagens eram exclusivas, que foram gravadas pelas equipes de reportagem da... família.
Quer dizer, a família instruindo “quem está em casa”, qual arma é a melhor, qual bala destrói mais. Evidentemente com ilustrações reais, ponta vermelha, ponta azul, traçante é melhor usar à noite, a comum é melhor usar sob a luz do dia. Como se vivêssemos numa eterna festa e precisássemos saber qual traje usar e quando. Onde? Em qualquer lugar. Afinal, é festa de família! E o pior? Não troquei de canal. Aliás, quem trocaria? As crianças, os adolescentes? Os bandidos? Uns, como eu, pasmos com esse tipo de “jornalismo”. Outros, achando que jornalismo bom é fazer assessoria de imprensa para a polícia, mas de graça.
É apenas a ponta do iceberg, caros. São não me perguntem se é azul ou vermelha. Isso é assunto de família.
Are we human?
Há 5 meses
"vestígios" de uma instituição falida
ResponderExcluirFaturando uma violência, claro, "exclusiva".
ResponderExcluircomo sempre, um texto afiado.
ResponderExcluirestá linkado!
abrs