A manhã lilás e o ar parado. Janelas suadas. Ar condicionado. Tapete e almofada. Televisão sem volume. O som do jornal arremessado à porta. O teto reconhecido de baixo. O chão desconhecido no pé. A visita anunciada do sol: era sábado.
Os estalos das articulações. O espreguiçar curto da pressa. Fontes de energia. Bateria. Celular. Computador. Pão. Queijo. Presunto. Cheiro de café do vizinho. Água de coco e daquela que matou o guarda. Passarinho tá com sede: é sábado.
Óculos grandes, peruca, chinelos. Telefonema. Garrafas plásticas. Gelo. A manhã rosada e o ar lento. Janelas abertas. Música. Rádio: volume sem televisão. O jornal folheado às pressas. O teto testemunha de cima. O chão redesenhado à risca. A luz intermitente do sol: sou sábado.
A chave de casa no bolso, o gole de gelo na boca, o soro pingado nos olhos: a vista recuperada do susto. A bolsa no colo, o porteiro com sono sorri, o portão da garagem sem medo: o retrovisor do carro sem nó. A manhã alaranjada e o ar desordenado. Janelas sem vidros, tanque sem gás: o jornal pelo rádio sem som. O teto pequeno. O chão imóvel. E o sol torto pelo espelho cego: sábado é o álibi do domingo.
Posto vazio, ruas viradas, lagoa ensolarada. A vontade dela, a saudade daquela e a certeza: ela. Um refrão na voz do Roberto, o Ribeiro, frisa-se, para não haver desencontro. O toque do celular, o amigo atrasado, a amiga ansiosa, os amigos que não dormiram, os que não acordaram.
Abre a porta, já tem gente cantando. Amanhã tem mais. Para ontem não há palavras. Mais um hoje. Vamos de novo. O bloco saiu.
Mas já volta.