Ele não é Aquiles.
Tem sola invulnerável.
Pisa olímpico sobre cacos afiados da maledicência. Caminha, sem medo, na sala dos invejosos.
Encara, sem calçado, buracos negros do destino.
É mendigo descalço. Só quer de esmola o beijo efêmero no bloco de Carnaval.
São pés democráticos. Percorrem o tapete persa da família de cobertura e o ladrilho imundo do boteco. E nesses carinhos de esquina, nesses bares suburbanos, ganha casca cada vez mais dura.
Rígida como o couro do pandeiro que embala suas noites.
Em breve, estará pronto para a Guerra de Tróia. A Guerra da Vida. Sem calcanhar exposto.
Seus olhos também são armas de longo alcance. Radares de lince ou de Linceu, da mitologia grega.
Enxergam o que não vemos ou não queremos ver. Guardam na retina esverdeada detalhes de um minuto. De um instante. De uma risada, reproduzida em minucia, em palavra, em teatro.
O palco? Qualquer lugar.
Brilha em suas homenagens genuínas. Ganha a plateia no constrangimento. E o povo quer mais...
Ele também quer mais. Mais de si.
Sabe que pode. Sabe que deve.
E na certeza, por vezes, se embriaga de ansiedade. Do garrafão de suco com vodka, goles fartos para aquietar a pressa. Do copo de cerveja, litros de expectativa dourada. Do cigarrinho de palha, baforadas de inquietude.
E assim, vai trilhando a estrada, dançando no chamego da moça, ganhando na
malemolência.
O Olimpo te espera paciente, rapaz.
Seus pés invulneráveis vão te levar até lá.
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