terça-feira, 18 de agosto de 2009

Primeiro dia de aula

- Ver o que não se vê com olhos, perceber os hiatos, os entreatos, os interlúdios, as pausas, o que está prestes, o que não foi ainda, o salto, o prosseguir – e nem sempre o que se segue. Ou para onde. Entender as pessoas, seus eus, meus eus, nossos quens, saber que amanhã vai ser melhor do que hoje e que todo dia é um dia, mas toda noite é outro dia. Despertar do sono, mas continuar sonhando. Pés no chão e cabeça erguida, mas nunca deixe de alçar os voos do amor. Celebrar a vida, o sol, a lua, o céu, a chuva, as nuvens, os passarinhos. Subir em árvores e conversar com as flores. Ou às vezes ficar do lado de dentro, sem janelas de consciência nem persianas da razão, mas com cortinas da loucura. Reconhecer pressentimentos. Observar da varanda de si cada movimento novo do coração: sentir-se. Agradecer pela comida, pela moradia, pelos estudos, pela família, pela fé, pela saúde, pelo carinho. Aceitar a vida, entender que toda provação deverá ser aceita com resignação – e não conformismo. Viver a juventude, buscar alegrias, arder em paixões, cantar alto, tomar banho de chuva, de cachoeira, nadar nos rios, deliciar-se com o cheiro de capim, buscar presságios no cheiro de chuva, renovar-se com banho de mar, a brisa do mar, a cor do mar, a verdade do mar: suas correntezas e suas marés. Respirar ventos, ouvir o silêncio inevitável do amor, bisbilhotar o destino mas não desafiá-lo, recomeçar a caminhada depois do tropeço, aceitar a queda, entender a queda, viver a queda, sorrir e chorar. Saber que nunca estamos sozinhos. Nunca estaremos sozinhos. A vida se conjuga no plural...



O menino sorri e percebe que está na hora.



A mãe se despede:



- Vai lá. Lembre que seu pai e sua mãe te amam muito. Olha, o ônibus já chegou. Vai, vai pra vida. Dá um beijo aqui. Pronto. Pegou o dinheiro do lanche? Ai, viu só, olha a gola pra dentro. Peraí, deixa eu ajeitar. E o cadarço? Não, não, peraí... Não corre, vai trope.. Ai, ai... Boa aula, filho... Mamãe te ama!

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