quinta-feira, 25 de junho de 2009

Redação de O Globo, 1975

Por Luis Turiba

Bom carioca que sou, embora nascido no Recife, quando me sobra tempo, espaço e saco, devoro lenta e caprichosamente as páginas d`O GLOBO, jornal que tem as marcas e rugas da cara do Rio. Me levam, as páginas, a passear pela cidade outrora maravilhosa e por coisas do mundo, minha nêga, do hoje e do ontem. Tenho uma ligação histórica com o jornal. Foi lá, na Rua Irineu Marinho, pertinho do Balança Mais Não Cai, que dei meus primeiros passos nesta profissão que carrego e por ela sou carregado há 34 anos. Fui repórter de Cidade d´O GLOBO. Cobri crimes, desastres, cenas cariocas, dramas humanos, carnavais, engarrafamentos de trânsito na Avenida Brasil, temporais, plantões nas praias e nas cidades fluminenses fora do Rio.


Naquele tempo não tinha tanto tiroteio e bala perdida como se tem hoje. Bons e inocentes tempos. Mandava na redação o Caban. Acima dele, o Evandro com seu hiper-óculos de ver além. E lá do alto do terceiro andar, o nosso “Companheiro, Editor-Chefe, jornalista Roberto Marinho”, popularmente conhecido como Dr. Roberto, inventor deste grande império. Na redação, ralando nas letrinhas, uma seleção de repórteres que até hoje dá saudade. Vamos ver até onde a memória ainda alcança, três vez salve a esperança: Luiz Eduardo, Jorge Oliveira, Thaís Mendonça, Paulo César (de Nova Iguaçu), Eduardo Mamcasz, Beliza Ribeiro, Jurandir, Pamela Nunes, Lúcia Leão, Marcelo Beraba, Riomar Trindad, Celeste (Educação), Marcelo Pontes, Albeliza, Hélio Contreiras, Mara Cabalero, Roberto Ferreira, Rosa Picoreli, Ismar Cardona, Henrique Lago, Luisinho, Marcos Dantas, nossa!, quantos vieram à tona e tantos mais que a memória deslizante me impede de lembrar. Éramos comandados (de certa forma) pelo super-repórter Domingos Meireles, que desenhava nossos textos; e copidescados – que luxo! -por dois gênios: Tite de Lemos e Agnaldo Silva. Chefiando a redação Anderson, Renan e Frejat.


Deixei por último, um nome significante, símbolo maior e, por que não, herói de toda essa geração e daqueles lindos e tenebrosos anos: Tim Lopes, o Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, que de contínuo da redação se transformou num repórter tão fantástico e penetrante, tão grande e nocivo à bandidagem, que caiu em combate, sendo terrivelmente eliminado pelo que há de mais perverso no tráfico do Rio de Janeiro. Tim, como muitos de nós, morava em Santa Teresa e utilizava o bondinho para chegar em casa. "Solta a franga, gente boa: só quem brinca com as palavras sabe a graça que elas têm", dizia antes de vestir sua camisa mais elegante para ir dançar na Estudantina, gafieira da Praça da República, quase Lapa.


Sinceramente, não sei porquê, mergulhado em O GLOBO desta última sexta-feira (dia 22), me dei conta de toda essa saudade. Talvez porque o Obama tenha resolvido levar para solo norte-americano os presos de Guantánamo, como foi noticiado na primeira página. Ou quem sabe porque o PT, a CUT e a UNE se juntaram para lançar a canditatura da Dilma em passeata na Avenida Rio Branco. Ah, acho que foi a foto do Lula na Turquia que se juntou ao comentário do Merval Pereira: "Como em política, ninguém prega prego sem estopa, a doença da Dilma está colocando a classe política em polvorosa. A solução mais óbvia, nem por isso mais fácil, é a possibilidade de Lula vir a disputar um terceiro mandato consecutivo." Mas o sarro que Nelson Motta tirou do Comandante Fidel também contou: "Ele (el comandante) descobriu que o Pentágono controla a internet e conspira contra Cuba, bloqueando o seu acesso à rede. Além do bloqueio econômico, o digital. Nem o mais idiota dos latino-americanos acredito nesse delírio cínico: é Fidel quem bloqueia o acesso dos cubanos à internet e às TVs internacionais." Isso sem falar da nota do Ancelmo dando conta que Jaime Arôxa vai substituir Carlinhos de Jesus na Comissão de Frente da Mangueira.


Não, nada disso. Talvez o que tenha me levado a regressar à redação de O GLOBO de 1975, tenha sido a entrevista que a repórter Márcia Abos fez com tia Rita Lee, onde ela abre o verbo corajosamente: "Não posso nada. Sou alcoólatra, então bebeu o primeiro, f... Meu pai e meu avô eram alcoólatras, minha irmã morreu de alcoolismo, overdose. Quando comecei a fazer a turnê do "Bossa 'n'roll", baixou um Vinicius de Moraes, e eu estava ali com um uisquinho. Álcool é a droga mais pesada que já experimentei. E tem essa hipocrisia de ser liberado - Se beber não dirija. Isso tudo é cinismo. Ou libera tudo ou proibe tudo. Quando nasceu minha neta eu tava num hospício. Porque "rehab" para mim é hospício, lugar de gente louca que tem compulsão a tudo: comida, sexo, jogo, álcool, drogas. Mas não me arrependo de ter feito tudo o que fiz, de ter tomado tudo o que tomei, de ter passado pelas esquinas por onde andei. Não tenho discurso de madalena arrependida. Teve um lado bom de alcançar um arquivo que eu jamais alcançaria careta. Mas é perigoso. Você consegue coisas maravilhosas, música, letra, a ousadia. Mas você abre a guarda e , nessa, vem o outro lado da moeda que é o escuro. Era uma coisa Luke Sywalker, agora é Darth Vader." Esse depoimento de Rita Lee é um poema, como foi poema ter vivido à redação de O GLOBO com Tim Lopes e - quase ia me esquecendo - com Nelson Rodrigues, fumando seu cigarrinho na Editoria de Esportes, enquanto escrevia sobre o Sobrenatural do Almeida, seu alter-ego para explicar as inexplicáveis vitórias ou derrotas do Fluminense.


Lembra Tim?

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