quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Abrir caminhos

Sentir saudade é indefinível. Pode-se, claro, recorrer à tentativa de explicá-la através de uma música daquela época, de um cheiro da infância, de um lugar, de um sabor. Dizem que ter saudade é bom; também sei dos que concordam que é ruim, pois certas vezes não poderemos, nunca, encontrar naquela pessoa ou naquilo que nos faz lembrar daquele tempo, a razão da falta.  E aí dá um aperto no peito: a respiração vacila.

Abrir espaço para o novo. A frase que ouço desde criança reaparece na memória logo no início do ano. Talvez porque minha mãe repita tais palavras naquela ordem nesse mesmo período. Sempre me perguntei a razão do conselho, se é que pode-se chamar assim, mesmo que saiba de minha dificuldade em desvencilhar-me do passado. Recortes de jornal, revistas antigas, contas já pagas, comprovantes bancários, fotografias de pessoas que não amo mais e, ainda, das que não me amaram nunca. Lá no fundo, apertando a ferida, insisto: ah, mas, de repente, posso precisar ler de novo aquele artigo, o banco pode dizer que não fiz o depósito, podem dizer que o pagamento já saiu. Aquela pessoa pode voltar, aquele tempo pode voltar e eu posso voltar a ser aquele que guardou a foto. E logo após o mergulho, ao recuperar o ar do tempo, reconheço que a lágrima é o único líquido retido pela lembrança. Amontoar recordações, quaisquer que sejam, impossibilita viver coisas novas – ou simplesmente viver.

No entanto, buscar a saudade é estranho. Cercar-se de artifícios que nos remetam a outras épocas ou a outros eus, os que passaram, não nos ajuda a abrir o caminho para o novo. Quase forjamos uma nova personalidade a partir da antiga, não nos permitimos falhas; o receio de seguir em frente, mesmo quando seguir em frente não significa seguir em frente: às vezes caímos num precipício, outras tropeçamos – e só seria possível se déssemos o passo na direção da vida. Quem é esse novo? O amor, o trabalho, o sofrimento, a saudade.. Ainda não sei bem.

Mas mudar sempre é novo.





2 comentários:

  1. belo texto! beijos asiaticos pra vc! cami

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  2. Saudade, saudade... hj eu posso dizer o que eh dor de verdade... Lindo o texto!!!

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