As palavras a seguir não serão escritas por mim. Elas já estavam por aqui, considero-me apenas um arauto desses novos tempos. Como se me apalpassem o espírito, como se me cortassem a carne. Surjo, pois, de onde menos poderia esperar e me flagro sorrindo ao lembrar da frase: o telefone só toca quando estamos distraídos.
Escolhi as coisas simples. Não é fácil, portanto, contentar-se com todas decisões que tomamos durante a vida. Procuramos esconderijos em nós mesmos, buscamos fugir do que não podemos escapar, oscilando sempre no intervalo do que queremos ser e do que poderíamos ter sido. E me conforto ao recordar do que me disse um amigo tempos atrás: para se ter uma coisa na vida, é preciso abrir mão de outra.
Como no samba do mestre Luiz Carlos da Vila: “E nesse vai-ou-não-vai/ Fiquei meio sem direção/ Cometa que passou bem longe/ Dos olhos da multidão”. A velocidade que nos impomos para o reconhecimento de nós mesmos, como se nos cobrássemos desfechos sem meios, como se a avidez pelo resultado superasse o medo da derrota. Vencer é enfrentar desafios de frente, que se danem os clichês – sei que muitos porão dedos sobre tais frases ou pensamentos – mas o escritor que tem medo do lugar comum não vai a lugar algum. Como disse certa vez o roteirista francês Jean-Claude Carriére: “Não tenha medo de partir do clichê, de uma situação conhecida. É trabalhando que se chegará à originalidade, pouco a pouco. Ao procurar a qualquer preço uma situação inicial absolutamente original, e por isso desconhecida, terrível, pouco a pouco ela será rejeitada, atenuada, arredondada, terminando de forma medíocre no convencional”. O que percebo ao examinar minha existência, é que sempre quis fazer diferente, ser original, mas não deixando de ser eu mesmo, como se prega por ai até hoje. Falhei. Zerei-me. E descobri que todos partimos do mesmo ponto, somos clichês de nós mesmos, ainda bem. A procura pelo que queremos vem depois de aceitarmos que o segundo fôlego é o que nos move.
E não haveria como não lembrar o que me disse uma grande capoeirista, do alto de seus vinte e um anos: devagar também é pressa.
Por muito tempo fui mistura do que quiseram que eu fosse e do que me permiti que me forjassem. Afoguei-me muitas vezes, mantive a calma e a bebedeira, procurei viver momentos mágicos, incríveis, surreais, sensacionais e fantásticos. Palavras bonitas, mas que perdem a força por (não) representarem a mesma coisa. Significados diferentes que querem adjetivar momentos ou épocas inesquecíveis. Taí uma palavra-clichê que, de longe, supera todas aquelas outras: inesquecível.
E recorri à frase lida pela manhã em algum lugar: quem olha pra fora sonha, quem olha pra dentro acorda.
Mas quem recomeça todo dia não recomeça nunca.
Essa bendita felicidade
Há um mês







 

muito bom meu idolo....
ResponderExcluirLindo. isso pq vc se zerou? jamais meu amor.
ResponderExcluirConfesso que fiquei angustiada com seu texto. Tive a sensação de que estou fazendo tudo errado. Ou seria tudo certo?
ResponderExcluirBons textos são assim. Fazem a gente pensar. Bjos