quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Clichês

As palavras a seguir não serão escritas por mim. Elas já estavam por aqui, considero-me apenas um arauto desses novos tempos. Como se me apalpassem o espírito, como se me cortassem a carne. Surjo, pois, de onde menos poderia esperar e me flagro sorrindo ao lembrar da frase: o telefone só toca quando estamos distraídos.

Escolhi as coisas simples. Não é fácil, portanto, contentar-se com todas decisões que tomamos durante a vida. Procuramos esconderijos em nós mesmos, buscamos fugir do que não podemos escapar, oscilando sempre no intervalo do que queremos ser e do que poderíamos ter sido. E me conforto ao recordar do que me disse um amigo tempos atrás: para se ter uma coisa na vida, é preciso abrir mão de outra.

Como no samba do mestre Luiz Carlos da Vila: “E nesse vai-ou-não-vai/ Fiquei meio sem direção/ Cometa que passou bem longe/ Dos olhos da multidão”. A velocidade que nos impomos para o reconhecimento de nós mesmos, como se nos cobrássemos desfechos sem meios, como se a avidez pelo resultado superasse o medo da derrota. Vencer é enfrentar desafios de frente, que se danem os clichês – sei que muitos porão dedos sobre tais frases ou pensamentos – mas o escritor que tem medo do lugar comum não vai a lugar algum. Como disse certa vez o roteirista francês Jean-Claude Carriére: “Não tenha medo de partir do clichê, de uma situação conhecida. É trabalhando que se chegará à originalidade, pouco a pouco. Ao procurar a qualquer preço uma situação inicial absolutamente original, e por isso desconhecida, terrível, pouco a pouco ela será rejeitada, atenuada, arredondada, terminando de forma medíocre no convencional”. O que percebo ao examinar minha existência, é que sempre quis fazer diferente, ser original, mas não deixando de ser eu mesmo, como se prega por ai até hoje. Falhei. Zerei-me. E descobri que todos partimos do mesmo ponto, somos clichês de nós mesmos, ainda bem. A procura pelo que queremos vem depois de aceitarmos que o segundo fôlego é o que nos move.

E não haveria como não lembrar o que me disse uma grande capoeirista, do alto de seus vinte e um anos: devagar também é pressa.

Por muito tempo fui mistura do que quiseram que eu fosse e do que me permiti que me forjassem. Afoguei-me muitas vezes, mantive a calma e a bebedeira, procurei viver momentos mágicos, incríveis, surreais, sensacionais e fantásticos. Palavras bonitas, mas que perdem a força por (não) representarem a mesma coisa. Significados diferentes que querem adjetivar momentos ou épocas inesquecíveis. Taí uma palavra-clichê que, de longe, supera todas aquelas outras: inesquecível.

E recorri à frase lida pela manhã em algum lugar: quem olha pra fora sonha, quem olha pra dentro acorda.

Mas quem recomeça todo dia não recomeça nunca.